Sintaxe à vontade

Sintaxe à vontade

É só um cara. Não o "denso lago de mistérios gazosos onde você mergulhou e ainda não submergiu". Nem o "sustentáculo de todos os ossos de seu corpo", tampouco "o mármore onde está gravada a suprema razão de sua existência". É só um cara.
E quer mesmo saber? É um cara como todos os outros caras.
Esse que te perguntou as horas no meio da rua – podia ter sido ele e você nem ligou. O mendigo, o ginecologista, o padre, o dealer. Ele estava ali o tempo todo. E ele não estava. Ele é só um deles. Vários. Uma legião. E ninguém.
É só um cara. E não a sua vida. E não todos os dias da sua história. E não todas as suas lágrimas juntas em um único sábado solitário. Ele não é o destino. É um cara. Existem muitos destinos.
Ele é só um cara que mal sabe escolher os próprios perfumes.Não sabe sangrar.Não sabe que nome daria a um filho.Não pode ficar mais tempo.Ele é só um cara perdido como muitos outros caras que você encontrou.E perdeu.
Ele é só um cara.E você já esqueceu outros caras antes!

Priscila Barreto

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